Orar no monte ou na igreja faz com que a oração tenha mais poder?
Presbítero André Sanchez
Você Pergunta: Tenho alguns amigos que
gostam muito de orar no monte. Segundo eles orar lá no monte é diferente, é
algo muito mais poderoso do que orar apenas em casa. Eu gostaria de saber se isso existe mesmo, se a oração feita em um
monte ou na igreja tem mais força que a oração feita em casa, por
exemplo.
Caro leitor, muito oportuna sua pergunta, já que
hoje está voltando com muita força uma prática de tempos atrás, onde as pessoas
afirmavam que orações feitas no monte são diferentes, são
mais poderosas e até mais ouvidas por
Deus do que orações feitas em outros
lugares.
Mas será que isso é bíblico? Vamos analisar e
compreender a questão:
A oração em regiões de montanhas era
muito comum entre o povo judeu, principalmente por causa da geografia de seu
território que favorecia tal prática devido à quantidade de montes. Outro fator
interessante foram as grandiosas coisas que Deus fez e que envolviam os montes. Por exemplo, os dez mandamentos foram dados a Moisés no Monte Sinai. Elias venceu os 450 profetas de Baal no Monte Carmelo, quando Deus
mandou fogo do céu ali. O templo de Salomão também foi construído nas regiões
montanhosas de Jerusalém. Vemos
também Jesus várias vezes usando os montes como local de suas orações: “E, despedida a
multidão, subiu ao monte para orar à parte. E, chegada [ já ] a tarde, estava
ali só.” (Mt 14. 23)
Por esses e outros motivos, os montes aparecem na Bíblia com muita frequência relacionados a
momentos especiais e poderosos de comunhão
com Deus. Parece óbvio entender que, por causa desses fatos bíblicos, os montes teriam “algo de especial”
para oferecer em termos de comunhão com
Deus e poder. É o que muitos entendem e, por esse fato, estão sempre
buscando montes para orar tentando alcançar um poder maior em suas orações. Já vi muitos pastores na Internet e na TV coletando
nomes para levar ao monte a fim de interceder e prometendo mais poder nesse
tipo de oração.
Porém, a
Bíblia não aponta que lugares concedam mais
poder a oração. Ou seja, não há nada
na Bíblia que diga que no meu quarto a oração
é mais fraca do que em um monte. Ou que se eu orar na igreja minha oração será atendida, mas se eu orar na sala de casa não
será.
Interessante notar que quando Jesus orientou seus discípulos a respeito da oração usou a figura do quarto como exemplo de
um bom lugar para orar: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta,
orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te
recompensará.” (Mt 6. 6). É evidente que Jesus não estava aqui apontando que
lugares conferem poder a oração. Ele
estava tratando o caráter de comunhão e verdade entre o que ora e
Deus. E
também estava cutucando os hipócritas que oravam com o fim de serem vistos e
tratados como mais espirituais que os outros. O foco de Jesus
era a forma correta de orar e não lugares. Apesar de gostar de orar no monte e
em lugares solitários, Jesus nunca atribuiu poder aos lugares, mas ao exercício
da fé dos que oravam.
Só a título de curiosidade temos registrado na Bíblia orações em diferentes lugares: No cenáculo (At 9.40);
A beira mar (At 20.36-38);
Dentro da água (Lc 3.21); No terraço de uma casa (At 10.9).
Também podemos destacar que a oração
modelo dada por Jesus, o Pai Nosso,
não apresenta indicações de lugares para ser realizada.
Dessa forma, concluímos que lugares não conferem qualquer status de
poder a oração. É obvio
que lugares proporcionam experiências melhores ou piores para alguma prática.
Por exemplo, andar de carro é definitivamente melhor em um autódromo que em uma
rua esburacada. Assim, montes e outros lugares cercados de natureza,
proporcionam uma atmosfera de paz e tranquilidade que favorece a nossa comunhão
com Deus e nosso foco. Mas
esse fato não determina que uma oração seja ou não “forte”.
A oração sincera de uma pessoa a de Deus, independente de lugar, será
ouvida pelo Senhor, que decidirá e dará sempre a última palavra em sua
resposta. Como nos disse bem Tiago: “…Muito
pode, por sua eficácia, a súplica do justo.” (Tg 5:16).
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